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O grito silencioso

Olhos, ouvidos, coração e boca. Ver, ouvir, sentir e falar.

Julio 2014 | Andreia Santaterra Ramos Feitoza (Sao Paulo, Brasil) | Experiences

Quem de nós é capaz de ter esses sentidos tão aguçados a ponto de quebrar a barreira do sofrimento solitário de uma criança?
Quem de nós é capaz de ouvir e acreditar no grito silencioso, no olhar amedrontado e triste de um ser indefeso?
Quem de nós reage com indignação e quebra a corrente do mal, que faz com que o bicho papão tenha poderes maléficos sobre a criança, rompendo assim o círculo da violência?
Tenho olhos porque Deus me deu, e eu vejo e não posso me cegar.

Tenho ouvidos porque Deus me deu, e tenho de ouvir aquelas palavras que param na garganta do pequeno ser aterrorizado.
Tenho coração porque Deus me deu, e não posso deixá-lo endurecer diante das maldades do mundo e deixar de sentir a dor do meu semelhante. Tenho boca porque Deus me deu, e não posso me calar, me omitir e ser conivente com um crime.

Roubar a inocência de uma criança... Será que existe algo neste mundo mais cruel do que tal violência?
Eles, os bichos papões, estão entre nós, na maioria das vezes muito mais próximos do que possamos imaginar e com disfarces de pessoas íntegras e insuspeitáveis.
Dia 18 de Maio, no Brasil, é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A escolha da data é uma lembrança a toda a sociedade brasileira a respeito da menina sequestrada em 18 de maio de 1973, Araceli Cabrera Sanches, então com oito anos, quando foi drogada, espancada, estuprada e morta por membros de uma tradicional família do estado de Espírito Santo. Muita gente acompanhou o desenrolar do caso, poucos, entretanto, foram capazes de denunciar o acontecido. O silêncio de muitos acabaria por decretar a impunidade dos criminosos.

Desde então se realizam e fortalecem as ações de enfrentamento à problemática da violência sexual de crianças e adolescentes, por meio de campanhas nacionais que objetivam trazer para a sociedade a discussão sobre o problema, a prevenção e, sobretudo, a importância da denúncia.

Todos os anos nós do CEJOLE - Centro de Educação Popular Santa Joana de Lestonnac, que atendemos cerca de 200 crianças e adolescentes na periferia da zona sul de São Paulo, capacitamos as famílias para a prevenção da violência e, especificamente nesta data de 18 de maio, realizamos uma passeata pelas ruas do entorno da instituição junto com as famílias e comunidade.

Este ano distribuímos cerca de 600 flores, símbolo da Campanha “FAÇA BONITO – PROTEJA NOSSAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES”, confeccionadas pelas mesmas crianças e adolescentes. Cantamos, dançamos e alertamos para a importância de denunciar e, em caso de denúncia, a que órgão público procurar e/ou para onde ligar, tendo a segurança de permanecer no anonimato.
 

Andreia Santaterra: gerente do CEJOLE desde agosto de 2013.


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